Jorge Nunes
Enófilo apaixonado, alfacinha babado, melómano amador, e benfiquista assumido.
Autor do blog www.joli.pt, que é onde partilha a sua paixão pelo mundo do vinho, da gastronomia e das viagens. Um projecto que começou em 2005 por brincadeira, mas que hoje está entre os sites de vinho portugueses mais populares.
É ainda co-autor do projecto Desafios da Adega onde se democratiza o enoturismo através de visitas a produtores.
A HORA DOS BRANCOS por Jorge Nunes

(...) Habituei-me a ouvir ao longo do tempo que somos um país de tintos, que o nosso clima se adequa mais à produção deste tipo de vinho em detrimento do branco, o que não deixa de ser verdade, mas confesso que dá muito gozo observar que a forma perentória com que se afirma esta verdade tenha vindo a ser suavizada pelo indiscutível salto qualitativo que os nossos brancos deram nesta última década, o que prova que o nosso país também possui excelentes condições para a produção de vinhos brancos.

À medida que os nossos produtores foram tendo adegas tecnologicamente mais equipadas e um maior cuidado na selecção das uvas, os vinhos brancos de grande qualidade, em todos os segmentos, começaram a surgir.

O clima continental associado a determinados solos tem mostrado nestes últimos anos do que é capaz e até novos terroirs, até então pouco considerados, passaram a fazer parte do mapa dos bons brancos que produzimos.

Estou-me a lembrar, por exemplo, do triângulo Mafra -Torres Vedras - Alenquer, onde hoje em dia se estão a fazer brancos de uma qualidade notável, a preços muito atractivos. Mas também podia ter ido à Beira Interior, onde o projecto Beyra, de Rui Roboredo Madeira, veio chamar a atenção para uma região eternamente ignorada, mas que vai mostrando grande potencial para este tipo de vinhos.

Tendo uma perspectiva mais abrangente do nosso país, facilmente constatamos que não nos faltam regiões com grandes potencialidades para os vinhos brancos. A diversidade de plantas também ajuda; Alvarinho, Loureiro, Rabigato, Síria, Bical, Encruzado, Vital (a ganhar novo fôlego na Serra de Montejunto, pela mão dos herdeiros de António Carvalho), Fernão Pires, Arinto, aliadas a algumas estrangeiras que fomos adoptando, formam um conjunto de castas que se prestam a produzir brancos de grande qualidade.

Espero que este curto texto possa ajudar, principalmente aqueles que ainda defendem que vinho é tinto, a converter mais alguns consumidores à causa dos brancos. A qualidade que estes têm demonstrado nestes últimos tempos merecem-no inteiramente. Façam o favor de os descobrir!


(parte da crónica de Jorge Nunes de Fevereiro de 2014)

Jorge Nunes
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