Bem no passado, e numa época de grande revolução na vinha da Europa e no Mundo, em Portugal editam-se dois jornais: “A VINHA PORTUGUEZA - VINHOS e AZEITES – Revista mensal de Agricultura” publicado e dirigido por F. D´AMEIDA e BRITO e ADOLFO S. FASSIO, e “A VINHA AMERICANA em PORTUGAL” publicado por FRANCISCO ANTÓNIO PALMA DE VILHENA”.
Sendo uma época negra e de extinção da vinha no nosso País (em 1896 mais de metade da produção, estava filoxerada), o realce vai para esses dois técnicos que usaram os seus jornais para divulgar não só os tratamentos para a “Philoxera” como também todo o apoio que deram aos vinicultores nesse período em que o País foi considerado indemne, suspeito e filoxerado.
Portugal foi na Europa o 2º País a receber essa praga e o seu desenvolvimento terá começado no Douro, onde as vinhas atingiram valores de mais de 95%, atacadas por esse insecto hermafrodita - o filoxera, que se alimenta do suco que extrai das raízes das plantas, em particular das videiras.
Nas vinhas europeias, a doença provoca tumores nas raízes, que em poucos anos destroem e enfraquecem as cepas.
Originário do Colorado da América do Norte, chega à Europa através das videiras americanas importadas para combater o ”míldiuw”.
Ao aparecer o novo jornal a VINHA AMERICANA que “não tem por fim somente aconselhar e dirigir os Viticultores portugueses na renovação das vinhas pela cepa americana e por este meio aumentar a produção vinícola”, dizia o Jornal “não basta porém que atinjamos uma produção considerável e que aparentemente manifestemos um estado próspero. O estado em que o Paíz se encontra é gravíssimo, se por um lado estamos ao abrigo das consequências, que vemos a arrebentar no Oriente da Europa, pelo outro nos vemos nas finanças arruinadas, com o flagelo da moeda fraca e com o descrédito nacional.”
Cit. Conde de Samodães nº2 - 1ºAnno Abril de 1897.
Por outro lado os conselhos “não existe nenhuma casta de videira que mostre completa imunidade perante as invasões do mildiuw, todas são mais ou menos atacadas, no que é o indicador seguro de que os tratamentos tem de ser geraes, sem excepção para esta ou aquela variedade.”
Cit. Palma de Vilhena, director do Jornal, Agrónomo do Districto do Porto, director da Estação Chimico Agrícola do Porto e vogal da comissão promotora do Commercio de Vinhos e Azeites – nº4 -1º Anno Maio de 1897.
Curiosidades: o preço da assinatura anual era de 2000 reis , e o anúncio de capa ½ página era de 2000 reis e no nº5 vem uma litografia a cores de um ataque de míldiuw ao cacho.
No “A VINHA PORTUGUEZA” os assuntos estão mais ligados ao Vinho de Mesa e publica muitos artigos do engenheiro agrónomo Pedro Bravo, distinto enologista e uma das primeiras capacidades enotécnicas do nosso País nos anos 1900 e autor da Vinificação Moderna de 1926.
"É certo porém, que de entre todos os nossos vinhos de meza, poucos são aquelles que podem apresentar-se e sejam dignos de aparecerem a uma meza, á qual se encontrem pessoas que tenham o gosto de beber civilizado. Sim civilizado, porque o gosto de beber, como todos os gostos , precisa de ser creado e educado por forma que nas diferentes partes da boca e nas fossas nazaes possa aquelle que bebe, captar, descobrir e transmitir ao cérebro as múltiplas sensações deixadas pelos diversos elementos sápidos e aromáticos do Vinho, separar cada uma dessas sensações, conhecer, as que são nobres e aquellas que podem desqualificar um vinho.
Beber é fácil, mas para se saber beber é indispensável ser–se dotado de um paladar e um olfacto apuradíssimos, dons naturaes , que auxiliados por provas muito repetidas e de vinhos variados ,trarão a educação do paladar.”
Cit. Pedro Bravo, XXIX ANOS, DA FUNDAÇÃO Do Jornal, Janeiro de 1914.
As palavras dizem tudo, para quê acrescentar os meus comentários…