Joe Best
Chef Joe Best, criado na Costa da Caparica, junto ao mar que lhe marca os dias, sempre teve com ele o prazer dos cheiros, dos temperos e dos sabores.

Criador das suas próprias regras de cozinhar, na sua forma mais empírica, autodidacta, estudioso e curioso de todo o universo da comida, sempre na procura de novas criações a partir de ingredientes que movem e despertam paixões, mas também na busca incessante de ervas, raízes, frutos e vegetais mais desconhecidos.

Sem cursos superiores nem formação específica para lá de barman e empregado de mesa, estabeleceu com a cozinha, na década de 90, uma relação de profunda paixão e entrega, criando assim a sua segunda pele.

Regressou à escola aos 44 anos para lhe serem averbadas competências na área, conseguindo que as mesmas fossem certificadas com diploma legal, vendo assim reconhecido o seu árduo trabalho de 30 anos em prole do bom serviço e gastronomia, para nacionais e estrangeiros.

Há três anos que dirige e dá alma ao projecto DaCozinha, projecto em que partilha receitas, ingredientes e amor, o mesmo amor que agora vos traz.
A MODA DO FOOD PORN por Joe Best

O vinho é um estado de espírito. Tal como a comida. Numa altura de globalização em que a comida e a cozinha, os food pairings e as degustações de vinhos e azeites estão a servir como separadores de programas e também de aglutinadores de audiências onde enchem páginas de jornais e revistas impõe-se também dizer e/ou perguntar qual é a comida preferida ou o que é para cada um food porn e não somente aquilo que Anthony Bourdain, o "pai" da expressão entende como food porn...

Outras nuances que me fazem pensar porque não devemos padronizar food porn, reportam-me à memória olfactiva e gustativa. São sensações que nos fazem entrar em "túneis do tempo". Uma infusão de erva príncipe e um arroz de cabidela ou pica no chão podem ser food porn para uns e provocar repulsa a outros. As próprias memórias olfactivas e gustativas não são nem podem ser padronizadas. E jamais, enquanto a sanidade mental me permitir,  poderei esquecer o cheiro e o sabor dos panados da minha mãe, dos seus ovos com tomate ou do seu bolo de bolacha com generosas camadas de creme de manteiga fresca e cheiro a café de saco. Coisas para mim food porn.

A cozinha está na moda de uma vez por todas e está aí para ficar. As proclamadas crises vão servir para ajustar à civilização o que acontece na selva - a selecção natural. Só os mais fortes, os melhores, os mais persistentes, se vão aguentar.  Falo do negócio, falo da parte comercial da cozinha, falo da higiene, da qualidade, da variedade, frescura e sobretudo, da criatividade. Chamem-lhe nova roupagem, baralhar e dar de novo, cozinha de fusão ou que quer que seja.  A comida e a bebida, com ou sem preocupações de food cost ou ratios de F&B nos restaurantes e hotéis, um canal hoje em dia chamado horeca, fazem, mais do que nunca, parte da sociedade de consumo.  Onde se incluem as redes sociais, apartados do meu conceito DaCozinha.

E para mim, food porn pode ser isto* :

"Uma torrada de pão de centeio, bem crocante, mas macia por dentro e manteiga pura bem derretida. Depois abrimos um salpicão, de fumo e concepção caseira, sabor brutal e intenso, cheio de carne, bem curado e macio ao mastigar. Uma alheira de molho, para humedecer a pele, também ela genuína, que há-de grelhar já de seguida. Lascas de batatas para fritar, que vão casar com a cebola, ambas de cultivo caseiro, despretensiosas e cheias de sabor da terra, sentidos despertos, o apelo ao chão sagrado. Cebola essa que já está na sertã, macia, semi frita, à espera da batata. Casamento entre dois géneros de substantivo feminino singular ou plural, não interessa. Não foram precisas autorizações, referendos ou decretos lei para casar as duas. A noiva cebola, sem véu, levou uma grinalda de pimento verde e foi pingada com picante gordo e intenso, de produção caseira, essencial e nuclear. Um copo meio cheio de vinho tinto, bom na boca, taninos redondos, com alguma madeira, de uvas lá do sítio onde tudo é calmo, lento e ponderado. Finalmente, todos estes sentidos que a viagem gastronómica despertou e os recantos do palato onde tudo isto tocou, são apontados no moleskine do chef, um dos livros de maior honra DaCozinha porque foi oferecido por uma amiga. E nós agradecemos aos amigos, que também proporcionaram estes 10 minutos, intensos minutos de pornografia na comida. Porque nos lembramos deles? Não tenho a certeza. Acho que sonhei tudo isto. Dizem que a perfeição não existe e eu tenho a sensação que lhe toquei."

* Excerto de um texto meu criado nas redes sociais para uma entrevista de rádio.

Joe Best
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